18.2.18

Q de questão


Quanta coisa mudou desde que eu saí da beira do abismo,

mas ainda fico cansado quando corro, ainda balanço os pés quando sentado, ainda sinto medo de arriscar e vez ou outra me vejo como um impostor, flertando com a ideia de tempo perdido, olhando para trás como um vitorioso ao mesmo tempo que a sensação de incompletude machuca de leve o canto da alma.

Eu sei agora que tudo passa, eu mesmo passei aqui uma milhão de vezes pensando coisas diferentes, eu mesmo olhei pra chuva irado e sorridente, embriagado e sóbrio em desencanto, triste e estimulado. Sou mais que a vida provinciana anuncia, menos que a propaganda promete, sempre sedento e exigente, buscando um sono macio que ainda não existe, uma melodia que ainda não surgiu na minha cabeça ou quem sabe um meio de me entregar de vez ao fluxo do rio, que só vai pra frente.

Não quero mais ser importante, muito menos me sentir impotente perante o incômodo de estar doente. Quero encontrar quem eu sou dentro do que eu tento ser, resgatar a ousadia kamikaze de meus ancestrais e pular bem alto no escuro das chances, nunca mais me arrepender do receio, de ponderar demais como fiz antes, resgatar o meu ímpeto que evaporou de meu corpo.

Eu acredito que essa é minha última oportunidade. Pode ser que não seja a verdade e eu queira pressionar a mim mesmo nesse processo, mas julgo retrocesso não apresentar soluções nessa altura do campeonato. Eu tenho as ferramentas, tenho a habilidade, tenho a vontade e a estratégia, só preciso da força da matéria, do corpo que coopera e da mente um pouco quieta quando enfim for necessário.

Quanta coisa mudou desde que eu saí da beira do abismo!