26.6.08

colar espatifado

Peguei as miçangas sem me preocupar em contá-las, eram amarelas e laranjas, também encontrei algumas rosadas. Não sei com que tipo de roupa combinaria, então não consegui descobrir de quem era. Minha vizinha nem sequer usava brincos, minha mãe preferia cordões de prata, as crianças usavam pulseiras de elástico colorido, de estrelas de plastico pintadas. Poucos visitantes passam por essa rua e eu não havia visto isso quando saí de manhã, outras crianças também colecionavam cada pecinha, como se competissem ou algo assim. Eu certamente ficaria em segundo lugar, mas como não sou fã de ocmpetições arremessei-as para o alto. Brilharam por um brevíssimo momento e eu fiz de conta de que era um momento memorável, fiz questão de relembrar esse fato, fiz questão até memso de escrevê-lo em algum lugar, só pra me lembrar que os pequenos momentos da vida relamente não parecem ter nada demais, e quem sabe sejam pequenos exatamente por esse motivo.

inseto dentro do sapato

eu, que não sabia que horas eram
que não entendia bem os sussuros
e geralmente fechava a porta sem querer na frente dos outros

eu, que enfrentei multidões em vão
que bati o pé sem ter um pingo de razão
subtrai meu saldo bancario quantas vezes foi preciso
deixei os juros roerem meus sonhos de consumo, prejuízo

eu, que não controlei meu sono
ao sonhar com fatos de fato enfadonhos
não gostaria de ficar sozinho
nem se me dessem prêmio

não sei se afoguei com talco
ou esmaguei ao pisá-lo
se não resistiu a queda
pobre inseto azarado

9.6.08

3 litros d'água

aceite sua condição
aceite sua condição
diz o dia que lhe arranca o coração

faça tudo pra mudar
faça tudo pra mudar
diz a noite que não deixa descansar

bobagem decidida
coragem reprimida
pensa alto enquanto descarrega vida

6.6.08

A memória das células

O corpo libera o suór, regula a temperatura e te mantém bem
Na queima houve perdas e o organismo age rápido para que tudo fique em ordem
Uma célula sobreviveu ao desastre e relatou para todas as outras que acabaram de nascer:


Minha membrana quase não suportou a explosão, nenhuma de nós esperava aquele movimento brusco. Eu estava relaxando um pouco ali perto do reto femural quando os musculos se contraíram de uma forma muito peculiar, meus companheiros foram tragados para o abismo muscular enquanto eu já havia dobrado a esquina da artéria. Estava tão quente que eu nem precisei da glicose, procurei abrigo no esternocleidomastóideo e fiquei lá até o corpo repousar novamente. Mas não se preocupem, eu sobrevivi e vou contar a vocês tudo o que sei, começando sobre a calmaria do esternocleid...