22.9.11

Tutorial

Eu vou te ensinar como fazer para não se importar:
arranque fora suas crenças diversas
suspenda seus valores
esqueça as desavenças
todas as vezes em que pisaram nos teus calos
todas as vezes em que pisaram com força, violentamente e propositalmente nos seus calos
ficaram marcas, cicatrizes do tamanho de um carro
mas você vai deixar isso pra lá
e vai aceitar todos os pedidos de desculpas como se realmente acreditasse em perdão
e não vai ficar mais tão chateado
indignado
sequer mudará o ritmo de sua respiração
quando tocarem sua ferida
mais dolorida
nem mesmo vai olhar com reprovação
talvez venha a pensar: acho que não foi comigo
mesmo sendo
mesmo sabendo que é
e lá estará
tome posse da sua indiferença.
Caso consiga, por favor me diga,
se ela tem um gosto bom

21.9.11

p-pausa

pare agora
congela essa última cena, por mais útil que seja
interrompe o fluxo
não pensa em mais nada
não faça mais nada
pare agora
estamos muito perto de ter uma boa idéia
a melhor idéia até o momento
sobre como vencer todo esse peso
sobre como sair ileso
de seu próprio pensamento

18.9.11

segredos enterrados em cápsulas 3/12

Eu queria atenção, mas não dessa forma
tendo que gritar mais alto, ser destoante ou deslocado
desesperadamente tocar ombros, chamar por nomes, raramente ser procurado
ser drenado até esgotar minha utilidade, até parece uma norma

segredos enterrados em cápsulas 2/12

Em quase todas as vezes em que surpreendi e me senti surpreendido
não era realmente eu que estava ali, admito
É que se tornou necessário, em algum momento
demonstrar interesse, apesar do rotineiro desapontamento

14.9.11

segredos enterrados em cápsulas 1/12

Eu não queria ser eco, eu queria ser ruído.
constante e seco, por muito tempo despercebido.
e finalmente, acidentalmente notado por bons fones de ouvido.

12.9.11

Auto Reconhecimento

Esse não sou eu, colocando problemas em ordem alfabética, divididos em subgrupos de relevância
Esse não sou eu, justificando o que aconteceu baseado na mais remota infância
Esse não sou eu, tentando convencer os outros que de mim emana a mais plena segurança
Esse não sou eu, inibido e incapaz de inventar novos passos de dança

Esse talvez seja eu, com um pé dentro e um pé fora da zona de conforto
Esse talvez seja eu, avaliando o que foi dito, rabiscando um plano torto
Esse talvez seja eu, esquecendo aniversários de pessoas importantes
Esse talvez seja eu, frequentando bingos e jantares dançantes

Esse sou eu, praticamente calmo e tolerante, mas às vezes rancoroso
Esse sou eu, com uma certa tendência a concordar, mas às vezes duvidoso
Esse sou eu e não tenho nada a dizer em minha defesa
Por hoje já não me cabe mais nenhuma certeza

11.9.11

Coleção 8/10

Por favor, reconheça o esforço
não são por coisas triviais que minha alma festeja
dói demais ouvir você dizer que é pouco
neve sabor cereja

4.9.11

Adeus às àrvores


Equilibramos nossas perdas
prezando pela adaptação, nem sempre frequente
já que foi dito e impedido, qual o motivo da indignação?
é isso que está na sua frente

os abraços e os panos vermelhos
a claridade e a saudade de um lugar familiar
ganharam a guerra por hoje, mas logo voltarão
com suas desculpas esfarrapadas
amparados pela lei
munidos de ímpeto e pressa

é esse o preço da civilização?
ter que voltar pra casa sem o benefício das sombras
preocupado com carros desgovernados
ver algo que levou um bocado de tempo pra se desenvolver
em menos de um dia ser derrubado