15.9.08

dez esperanças

1- Que eu vá jogar aquele jogo que sempre perco e ganhar pelo menos uma vez.
2- Que inventem máquinas mais simpáticas e que não acabem com meu humor
3- se chovesse um pouco mais enquanto eu estivesse em locais cobertos e um pouco menos enquanto eu estivesse lá fora seria ok também.
4- Um pouco mais de força para quebrar minhas próprias barreiras viria a calhar.
5- Oportunidades para reposição de sono localizadas em pontos estratégicos durante a semana.
6- Uma leve pitada de organização, o suficiente para achar meias que caibam no meu pé pela manhã.
7- Que me deixem em paz quando eu rosnar.
8- Que me perguntem o que houve quando eu passar muito tempo quieto.
9- que eu pare de enumerar as coisas.
10- que sejam no máximo 10, já que tive uma vez em que foram 100.

o problema de godofredo

...E então o médico surge por detrás das radiografias, com um olhar menos pesado e se aproxima:
- acabamos de descobrir que você não tem nada, e esse vazamento nada a tem a ver com o resto do seu organismo.
- Mas, ele brota das minhas glandulas sudorípadas, deve ter alguma origem.
- Não enconstramos nenhuma disfunção no seu organismo, e falando sério, é a primeira pessoa que eu vejo transpirar tinta. Talvez se vc passasse a evitar a exposição ao sol...

Godofredo saiu impaciente do consultório. Não sabia de migrava para o sul ou se oferecia seu estranho fenomeno para alguma fabrica de tinta.

14.9.08

robô arrependido

olhando as rachaduras na parede, lutando com essas roupas que não me servem, guardando papéis velhos no bolso lateral. A vida toda esperar que todos entendam seus significados próprios, é como se ocupar de empregos chatos e voluntários.
O mesmo grito que te salvava de ficar com a raiva entalada é o mesmo que a traz de volta dependendo do estado, de uma cachoeira de pensamentos que te ocupam, derrubando o que você ingenuamente chamava de estável. O seu equilíbrio não é algo de valor, mas você faz da sua queda algo mágico. E mesmo que ninguém mais concorde e eu sei que naõ vai ser fácil, já que cabeças duras amolecem com golpes bem dados.
Aquela promessa de chuva me toca pra valer, traz a tona a minha vontade de permanecer sobre um banco de ponto de ônibus, de ser um pouco do que eu fui quando me senti perdido, um simples cara sorrindo, um robô arrependido.

8.9.08

o som do ultra som

cada nota feita é um espanto
seus cabelos que mal respondiam ao ventos se empinam ouriçados
seus pés levitam por alguns centímetros como se não houvesse nada de errado
batendo de frente com a latência, que se dissolve em respostas rápidas, trens saindo de dentro do seu coração



26.6.08

colar espatifado

Peguei as miçangas sem me preocupar em contá-las, eram amarelas e laranjas, também encontrei algumas rosadas. Não sei com que tipo de roupa combinaria, então não consegui descobrir de quem era. Minha vizinha nem sequer usava brincos, minha mãe preferia cordões de prata, as crianças usavam pulseiras de elástico colorido, de estrelas de plastico pintadas. Poucos visitantes passam por essa rua e eu não havia visto isso quando saí de manhã, outras crianças também colecionavam cada pecinha, como se competissem ou algo assim. Eu certamente ficaria em segundo lugar, mas como não sou fã de ocmpetições arremessei-as para o alto. Brilharam por um brevíssimo momento e eu fiz de conta de que era um momento memorável, fiz questão de relembrar esse fato, fiz questão até memso de escrevê-lo em algum lugar, só pra me lembrar que os pequenos momentos da vida relamente não parecem ter nada demais, e quem sabe sejam pequenos exatamente por esse motivo.

inseto dentro do sapato

eu, que não sabia que horas eram
que não entendia bem os sussuros
e geralmente fechava a porta sem querer na frente dos outros

eu, que enfrentei multidões em vão
que bati o pé sem ter um pingo de razão
subtrai meu saldo bancario quantas vezes foi preciso
deixei os juros roerem meus sonhos de consumo, prejuízo

eu, que não controlei meu sono
ao sonhar com fatos de fato enfadonhos
não gostaria de ficar sozinho
nem se me dessem prêmio

não sei se afoguei com talco
ou esmaguei ao pisá-lo
se não resistiu a queda
pobre inseto azarado

9.6.08

3 litros d'água

aceite sua condição
aceite sua condição
diz o dia que lhe arranca o coração

faça tudo pra mudar
faça tudo pra mudar
diz a noite que não deixa descansar

bobagem decidida
coragem reprimida
pensa alto enquanto descarrega vida

6.6.08

A memória das células

O corpo libera o suór, regula a temperatura e te mantém bem
Na queima houve perdas e o organismo age rápido para que tudo fique em ordem
Uma célula sobreviveu ao desastre e relatou para todas as outras que acabaram de nascer:


Minha membrana quase não suportou a explosão, nenhuma de nós esperava aquele movimento brusco. Eu estava relaxando um pouco ali perto do reto femural quando os musculos se contraíram de uma forma muito peculiar, meus companheiros foram tragados para o abismo muscular enquanto eu já havia dobrado a esquina da artéria. Estava tão quente que eu nem precisei da glicose, procurei abrigo no esternocleidomastóideo e fiquei lá até o corpo repousar novamente. Mas não se preocupem, eu sobrevivi e vou contar a vocês tudo o que sei, começando sobre a calmaria do esternocleid...

20.5.08

interrupções em momentos críticos

gostaria de ser claro e conciso, parafraseando algo que tenha sido bem entendido
ter o poder de produzir a resposta, ser sucinto e objetivo
mas me resumi tanto que já nem me entendo
com tantas entrelinhas já não sei onde começo
já não sei onde termino

Mas nesse peito barulhento e empoeirado bate um coração alérgico e são nesses nervos sinestésicos que deixo de sentir a dor de ser mal interpretado, ainda assim eu insisto em dizer o mesmo, modificando os argumentos, acelerando o andamento, não pretendo ser chato.

faltam teclas nesse teclado, falta tinta nessa caneta, falta a ponta desse lápis, faltam idéias que valham a pena.

8.5.08

Vista aérea do labirinto

Você achou que seria fácil, então escalou o muro de grama e se deparou com algo intrigante
seria dificil descobrir o caminho, pois nem sequer conseguia enxergar o final
tentou seguir por cima dos muros, dizendo a si mesmo que era iniciante
e era de fato pois nem sequer soube se equilibrar

de volta ao chão tudo parece mais claro e convincente
corto caminho usando um alicate
corro aflito para o final eminente
meu corpo enfim a porta fechada bate

aperto a campainha e perguntam quem eu sou
"eu não sei de fato"
me convidam pra entrar, servem bolo e chá

" aqui não é a saída, é como se fosse uma sala de descanso"
enfim abrem a porta e me mostram a outra parte do labirinto
muros altos de pedra rígida.

4.5.08

Pudim com Garfo e Faca

Na viagem pra cá, escutei várias recomendações
foram agressivos comigo e me arrancaram raiva
raiva eu desconto em casa, em paredes ou refeições

Andando por aí apenas com meias, que sujas fizeram-me arrependido. As pedras pontiagudas brigaram comigo, eu insistia todo dia em criar uma nova forma de ir a padaria. Um dia, estendi uam corda do telhado da minha casa até o final da rua, com uma roldana me prendi e me arremessei adiante, patinei sobre o teto dos carros e segui radiante, como jet li fazia nos filmes. Rodopiei e aterrisei em cima das goiabas, me escondi e fingi que já estava lá, andando calmamente até o balcão.

"Posso comer pudim com garfo e faca?"

"Ora, porque não?"

Fotofobia

Consegue ler a linha anterior?
Hoje, me parece dificil
Se a recaída fosse um vício, a cura seria a queda definitiva
de definitivo nem mesmo a morte, nem mesmo a cor do escuro
queria ter feito um seguro contra essas espinhas dolorosas

E a linha à direita?
Essa é praticamente impossível
prefiro andar de dirigível a ter que descobrir tais significados
gosto de tudo que não me pareça errado
mas não sinto prazer em ter razão
apesar de me enfurecer quando sou contestado

Ficou mais nítido agora?
Sim, um pouco
como o sentido das vias de mão dupla
ou como o enredo de um filme que ganhou oscar
bem como a música que toca nas estações
culturas que geram escolhas
escolhas geram confusões

Mecânica das Filas

Se eu fosse mais velho, duraria menos a espera
Se mais novo, não haveria motivo para estar aqui
Se fosse um dia ensolarado, estaria satisfeito como ar condicionado
Pois nos dias frios, desejo acender uma lareira aqui dentro
Eu viro a senha de cabeça pra baixo, mas não faz nenhum sentido
me apóio em uma só perna, pra distribuir o cansaço
bebo o último gole da garrafa
olho as horas
espero
inquieto
bato os pés e canto
em silêncio, leio os papéis de novo
nada de novo, mesmos números e códigos de barra
quando acaba, sinto me satisfeito e com ar de dever cumprido
olho os rostos fechados de quem ainda não foi atendido
o sorriso do segurança que se despede
o sol bate no rosto como se estivesse com saudade

1.2.08

café com leite? meio quente.

eu mapeei toda essa casa, tenho as coordenadas e sei o melhor caminho caso você queira ir pro quintal, o beco lá fora tem menor movimento, uma vista boa, inclusive. Se quiser um bom esconderijo, tem um ótimo debaixo da escada, mas terá de dividir espaço com as tranqueiras que eu guardei lá, alguns sapatos velhos e minhas bugigangas de isopor. Pra chegar no meu quarto, bast subir as escadas, contar algumas portas, girar 3 vezes, procurar o fundo falso na parede e apertar o azulejo. Lá dentro existem vários segredos, o diário está dentro do sapateiro, há uma escotilha para o teto no canto esquerdo, os quadros empilhados no canto não são nada, fiquei de vendê-los faz um tempo, o botão do volume da tv está quebrado, procure o controle remoto debaixo do travesseiro, na gaveta da escrivaninha tem um recado, por favoor, evite lê-lo.

30.1.08

tintas que saem

eu entenderia a história se ela fosse contada do meu jeito
tiraria umas palavras, encurtaria umas falas, seria mais direto
duraria poucas páginas, a viagem de volta pra sua casa
talvez quando terminasse ainda ficasse a sensação de não estar completo

mas eu prefiro assim
acho melhor assim
é a única coisa que não podem tirar de mim

ele dobrou com cuidado a blusa
ele tirou com cuidado os sapatos
ele caiu com cuidado na cama
adormeceu e acordou atrasado

3.1.08

Perdendo o ônibus, pensando em ir a pé para casa...

... e as luzes dele se apagam ao chegar na rodovia
bem que eu queria, estar livre de ameaças
mas cheguei tarde, e a escuridão me faz companhia

a luz ofusca, pois todos vão em direção contrária
sem ter carona, olhando para o chão sem graça
eu tenho pressa, mas é uma pressa imaginária
há muito sono e cambaleio na ultima reta

eu vejo o primeiro poste do bairro, me recomponho
eu vejo a praça, o posto e minha casa
eu vejo minha cama, não vejo mais nada

A hora de apertar o botão

Te deixaram aí de vigia, tomando conta de um alvo imóvel, tomando conta do seu próprio ódio e de todo seu jeito inquieto. Te deixaram aí de vigília, batendo os pés até a primeira hora do dia, sem uma única vista interessante, sem uma boa ventilação ou café adoçado a gosto, sem revistas de passatempo ou cadernos para rascunho, o pior de tudo: é o começo do seu turno.

Vila Hulda

Quando atravessei a rua percebi que não fazia a menor diferença
o meu andar sorumbático, pensar burocrático, certas coisas a gente não inventa
procurei no meu bolso algum último vestígio daquele bala de menta
enxuguei o meu rosto, tapei meus ouvidos, com a boca seca e sedenta

na noite friorenta

houve um certo embaraço, ao desenrolar cabos dentro de minha mochila
lixo e papéis antigos, dificultavam a busca por provas mais vivas
livros em sacolas plásticas, maçãs e camisas limpas
olhei muitas vezes para o lado, procurando a inexistente saída

na noite ainda viva

direção defensiva

humilhado em um jantar 8 horas, tive de me defender, sem violência.
Disse não estar legal e com pressa
debandei desnorteado pela rua

se eu tiver de me perder, que seja por aqui, que seja com você
se eu tiver de me perder