15.12.10

quinze

aprende-se muito passando bastante tempo em um lugar sem janelas
com coleta seletiva, chão sujo de terra, luzes fluorescentes simpáticas
com ar condicionado no máximo, cadeiras sem apoio para o braço, sopas temperadas com pimenta
com cabides para capacetes,armários recheados de biscoitos recheados, cadeados em ordem alfabética
com paredes acolchoadas, espelhos côncavos e convexos, emaranhado de fios diversos
aprende-se muito com bebedouros, alagamentos e sistemas informatizados
com conversas paralelas, diretas e indiretas
com comentários sobre o tempo e tudo mais que for óbvio
vendo seguranças bocejando em suas motos
recebendo um inesperado refrigerante grátis

13.12.10

Coleção 3/10

Entendo agora cada um dos motivos
alvo do seu olhar de reprovação, não há nada que me proteja
deixe um pedaço de mim, por compaixão
neve sabor cereja

18.11.10

coleção 2/10

Lembrança feito pólvora, espalhada em espirais
Combustão por faísca de quem tanto a deseja
Esquecer-te era tudo e eu não fui capaz
neve sabor cereja

14.11.10

mini histórias

A areia molhada sujava o chinelo, ele corria tomando atalhos em seu bairro pequeno. com meia dúzia de ovos na sacola, inconsequente e agitado, olhando em sua volta. Sempre quando olhava para alguém e era correspondido, desejava boa tarde. Se distraiu e torceu seu pé, quebrou quase todos os ovos.





- Eu não tenho muito para lhe oferecer. Dizia enquanto olhava para o chão.
- Se enxerga assim, quem sou eu para te convencê-lo do contrário.
Pôs seu casaco com fúria e deixou o local. Um carro bateu em um muro ali perto, um anel foi arremessado em sua direção e parou bem perto do seu pé. Ela fitou por uns segundos enquanto se afastava sem nada fazer a respeito.



Estavam todos reunidos na sala. Então ele perguntou se alguém gostaria de dizer alguma coisa. Um rapaz se manifestou:
- Olha, acho que estou virando pedra.
E realmente estava. Na verdade, a casa toda estava. Todos correram em direção à porta, mas com desespero ficava difícil usar o "macete" para abrí-la".



A indústria química passou dos limites e naquela manhã o rio estava gelatinoso e denso. Um curioso se jogou da ponte e se espantou: seu impacto fora amortecido.Pouca gente sabe que gelatina é feita de ossos de galinha.



Um homem equipou sua casa com produtos descartáveis: toalhas, copos, pratos. Mas talheres de plástico eram horríveis, ele preferia os comuns. As visitas achavam que todo dia era algum tipo de festa.

7.11.10

o caráter irreversível do tempo

não vai acreditar, mas essa manhã eu acordei achando que nada vale a pena
onde vou me esconder se o maior malefício vem de dentro e eu não sei qual é o problema?
você pode até discordar, mas não vejo propósito em esboçar um falso e tosco sorriso
e há de convir que não há para onde ir, nem você sabe o que eu preciso

ainda com as palavras engasgadas, deixo escapar um par de mágoas borradas
e me arrependo em segredo por cada
precipitação,impulsividade
leve confusão ao explicar toda verdade

não vai acreditar, mas essa manhã eu acordei com um pingo de esperança
vou sobreviver, pois não há o que temer, sendo amigo da vida que nos cansa

3.11.10

hora de ir

tanto faz, essa camisa meio amassada nas mangas
tanto faz, o caderno deixado em cima da mesa
o motorista hoje está com pressa, disso você tem certeza.

30.10.10

como perdi cem quilos

não foi revisão de hábitos
nem foi por dedicação
ou por convenções estéticas

não foi o que me disseram
nem tampouco decisão
consequência de decepção

descobri a pior das coisas
quando me revirava em noites mal dormidas, eu pude ver:
não estou quebrado
tudo funciona perfeito
tudo e de um certo jeito
eu consegui

se soubesse como é acordar e não sentir, oh chão, o que faria?
- simplesmente deixaria de existir

de que adianta ser louvável, já que causa tanta dor?
mesmo salvando milhões de vidas
não adiantou
não salvou a minha
e eu te pergunto todo dia se era o que você queria
ou se você errou ao me dar escolha
se a escolha já não é minha e nem parece ser sua
o que restou?

pedido de demissão

dando ré, pela décima primeira vez
em uma rua apertada, onde carros mal estacionados bloqueiam a passagem

dando ré, pela décima segunda vez
subindo pela calçada, enquanto as janelas são arranhadas pelos galhos das árvores

dando ré, pela décima terceira vez
muitas caras já fechadas, me olhando com reprovação como se eu tivesse culpa

dando ré, pela décima quarta vez
com celulares desligados, sozinho contra uma multidão de cobranças pertinentes

dando ré, pela décima quinta vez
eu só quero ir pra casa, o silêncio é bem vindo e o sono, inimigo

dando ré, pela décima sexta vez...

28.10.10

o uso dos porquês

Não entendo por que os cometas rasgam os céus mas nunca caem em locais apropriados.

meus cálculos estavam errados, senti vontade de dar meia volta, sabe por quê?

porque uma veia de preocupação saltou pela testa, aquela que contesta tudo que pode me acontecer.

o porquê das minhas memórias abatidas no penhasco, meu dicionário rasgado e a sola dos sapatos gastos na diagonal.

é confuso em todo o seu uso, para mim parece tudo igual.

27.10.10

coleção 1/10

perspicaz, pelos cantos da calçada, dançando discretamente
seguindo a pulsação dos carros, cuidando para que ninguém veja
garota das roupas de algodão, dos pés dormentes
neve sabor cereja

24.10.10

O amor invisível parte 3

Queria especular, poder dizer o que vai me acontecer
o chão vai desabar e as coisas vão voltar par ao seu lugar
queria entender porque diabos permaneço aqui
até perder o ar...

quando me perguntava, como então seria? o que eu faria da minha vida?
nunca imaginei, nunca imaginei...
(perecer só)

justiça seja feita com essa vontade de continuar
eu desafio o luto, eu luto mas não consigo ganhar
falam sobre a verdade, como se fosse alvo fácil
tão triste ser instável

quando me perguntava, como então seria? o que eu faria com minha vida?
nunca imaginei, nunca imaginei...
(perecer só)

O amor invisível parte 2

Labirinto, invasivo, que desperta a hora certa
eu entendo esse desejo de voltar

Labirinto, vingativo, que esconde a real face
velhos truques de espelho mesmo assim me encantam

Labirinto, persuasivo, que não deixa outra escolha
cercado e cego por sinais
agora tanto faz

O amor invisível parte 1

Num céu simbólico onde eu não pude estar
ressoavam versos diversos sobre sua falta
meus braços suspensos dispostos a te alcançar

foi tudo único com tanta força
que ainda sustenta sorrisos com a simples lembrança
de estar perdido e enfim se encontrar

sou vulnerável a tudo em você
desde os finos traços até sua voz calma e clara
não restam mais armas ou escudos para me defender

poesia vogon

não dremasve, por ti nosdelho
pela flácura contida e nula
semearia surdentas masjas
tremefaria argêntea bula
rotufrago-me de joelhos

és tênue, qual encoraja

29.9.10

contagem regressiva

as nuvens passam por nossas cabeças, isso nos deixa preocupados
seriam as pessoas como nuvens?
levadas pra longe com sopros

prelúdio do esquecimento

a gente não sabe o que há do outro lado do túnel
mal sabe o que nos espera na hora seguinte
a gente acorda com ou sem nenhuma esperança
tem dia que a gente simplesmente se cansa
de ser um bom falante, um bom ouvinte

eu não sei nada sobre a vida
mal consigo amarrar os cadarços de forma satisfatória
mas sabe, essa aqui é minha batalha
boa ou não, essa é minha história

26.9.10

três segredos confessados para o pôr-do-sol

há milhares de opções e é isso que me fez ficar tanto tempo perdido
tanto tempo para descobrir que o problema não estava em escolher, mas sim em sustentar a escolha

o pesar me faz sofrer multiplas enfermidades, guardo comigo
me falta o ar quando penso na improbabilidade de abrir um sorriso


eu ganho para perder e sentir saudade, alimentar a angústia com farelos
eu sempre me mahcuquei sendo sincero

9.9.10

Sotawaga

é como ver por outros olhos
não reconehcer o próprio rosto
adormecer sobre o gramado
bater a cabeça no estrado da cama
perceber que muitos anos haviam se passado

é sentir falta de tudo que era familiar
e desafiar o novo, sem pressa
é evitar o uso de promessas
estar lá para ver o tornado passar

é saber metade da história e inventar o resto
é usar como pretexto uma bússola quebrada

chegamos a um ponto em que os traços se quebrarão em vários pedaços
e os estilhaços podem causar alguns danos
eu quis a avidez de uma ventania desgovernada
mas ser lançado a um lugar ao qual eu não pertenço não estava nos planos

17.7.10

o que havia dentro do envelope que caiu acidentalmente no bueiro

faz parte da minha carência, pedir por atenção
estamos cercados de falta
estamos cercados de falta
eu já te pedi desuclpas por ter ido embora
estamos cercados de falta, agora

começou, como simples decisão
como simples progressão de uma tentativa quase boa
prosseguiu, como um pensamento legal
como a vida sem final de uma história que se diz madura
se diz madura

perdoe a certa urgência, mas é que é grande a demora
estamos cercados de falta
estamos cercados...por falta
eu tenho dificuldade em aceitar um não
estamos cercados por falta na contramão

guia prático para o assobio

Nessa pele oleosa existem sensores que captam a chuva fraca de julho
que sabem exatamente o que ela quis dizer com isso
toda a boa vontade, todo o embaraço de um clima amigável
chuvas me fazem sorrir enquanto deixam meus pés frios e molhados

é no espelho que se forma no asfalto, um disco de vinil tamanho família
que vejo alguém de quem eu deveria me orgulhar
alguém que chegou até aqui, sobreviveu apesar de tudo
e que ainda tem forças para descer alguns pontos antes só por esporte

verdade, é bom ser dono da própria vontade
é bom ser mal informado, ou ignorante
mas melhor ainda é equilibrar na ponta do nariz toda a informação que lhe confunde
um dia você ganha, um dia você perde, não lhe parece emocionante?

4.7.10

Aforismo

de tudo que a gente não desiste, sobra tempo, falta coragem
gosto do esforço, de permanecer para escutar

de tudo que a gente mantém, sobra um abraço
sobram meus olhso negros de cansaço
só quero que o domingo acabe bem

28.6.10

liga / desliga

eu tenho um estranho corte na sola do pé que não cicatriza
ele dói de tempos em tempos, geralmente quando não estou usando o tênis
eu só deixo de usar tênis nas férias, que é quando eu não preciso sair de casa para coisas formais

eu tenho apego por tudo o que eu disse um dia, principalmente o que não me lembro.

eu tenho visões de um futuro adulterado pela expectativa, alimentado pela utopia de um coração partido.

eu tenho dúvidas que guardo com carinho no bolso, junto com os pápéis de bala, que estão lá por que nao queria jogá-los no chão.

eu não tenho mais vontade de me vingar.

10.6.10

Carta ao Eu do passado: parte 1

Foi mais ou menos assim que recuperei o rumo:
uns furos a mais no cinto, um sono mais responsável
a tolerância como ferramenta de convívio
o sentimento de auto-destruição contido como um fantasma preso dentro do jarro

que fique bem claro que nada está certo ainda
é só um período de calmaria
eu vou polir o escudo e deixar ele preparado
encostado em algum canto dessa sala
vou ler todos os textos atrasados, talvez arrumar as gavetas
pensar no que fazer com as paixões que incomodam
com a quantidade de coisas das quais não queria me desfazer
no tipo de pessoa que quero ser
e se vale realmente a pena levar uma blusa extra hoje

11.5.10

o que aconteceu?

não tem muito o que contar
não foi engatilhado por nenhum evento
nenhuma gota d'água
ou algum estopim

um belo dia acordei e já estava assim

21.4.10

noites assim, quase infinitas

tremor nos pés descalços
olhar de indignação
são as coisas que permeiam a solidão

Lítigios plusperados
os laços que enfim desfiz
são as coisas que permeiam a solidão

o gosto quase amargo
de biscoito recheado ruim
são as coisas que permeiam a solidão

o solo se desfaz
a noite vem lhe dar a mão
são as coisas que permeiam....

8.4.10

nó difícil

eu espero um sinal, dos grandes e claros.
eu espero uma vontade, que seja forte e suportável.
eu espero um dia em que o ar não seja pesado.
eu espero não ter mais a barra da calça debaixo do sapato.

eu espero um pouco de compreensão e acolhimento.
eu espero noites de bom sono.
eu espero feriados longos, compromissos pequenos.
eu espero descobrir o que mais quero.

5.3.10

a invenção do tédio

não é que não há o que fazer, há muito o que fazer, sempre houve. Mas algum muro invisivel te impede, é como se a vida se resumisse em curtos movimentos, em pequenas considerações e qualquer devaneio fique preso no seu filtro de falso bom senso.

Enquanto eu viajava para outros planetas, você tentava achar algum programa interessante.
Enquanto eu descobria a fórmula para levitação instantânea, você pairava sobre a porta de sua casa, olhando a rua e esperando algo acontecer.

17.2.10

sobre a vida que não tive

esses dias acordei sentindo muita falta da maneira como eu encarava as coisas, sem sofrer por nada que eu não tivesse culpa, sem me retorcer ao perceber o erro recém cometido. Lembro que como um fantasma, eu atravessava as paredes da dúvida sem temor, eu era o super-herói da minha consciência, pois sabia o quanto tinha razão sobre mim mesmo. Tudo começou a desmoronar quando eu me vi longe de minhas forças, separado por um pequeno abismo, o qual eu simplesmente não sabia como atravessar, talvez naquele momento eu nem quisesse.

e agora eu me pergunto o que me leva a sofrer por tão pouco, o que determina a gravidade das dores do espírito, como serei capaz de lidar com tudo isso sem que eu pereça sendo a causa do meu próprio mal.

eu lembro de quem eu era e lembro do que aquele cara queria. percebo o quanto as motivações mudam e fico aqui olhando para as minhas glórias e ruínas preferidas, pensando em vidas que nunca tive.

13.2.10

visão com brilho

na sua nuca, ao apertar o botão certo, uma tampa de aço se desprende e de lá cai um controle remoto.
você nunca esperou ser considerado certo, mas quando apertou as teclas entendeu do que eu estava falando.
pois dessa forma, bastava pensar no impossível de uma maneira mais saudável e você poderia alcançá-lo.
não importa, você é o mais teimoso de todos e já que não existe um consenso, que vá cada um para um lado.

água, meias trocadas, ventilador, me restam 3 minutos.

7.1.10

truque de espelhos

O problema não era deixar coisas pela metade.
Porque deixar pode ser uma decisão coerente.
Era desistir que incomodava.
Nunca me sentir competente.

2.1.10

a curva do arrependimento

eu mesmo escolhi qual era o meu nome
e então construí o meu personagem
e distribuí todos os meus pontos
mas fui e esqueci das habilidades

sei que reclamei por não ter recursos
de nada adiantou, e o tempo é escasso
fizeram uma lei onde eu era incluso
naquele cartaz de mais procurados

pois eu golpeei e fui golpeado
o dano sofrido me fez derrubado
eu não golpeei e fui golpeado

mas não é um acordo, não é uma aposta
qualquer convenção da qual você gosta
terá seu fim