11.12.07

alma dobrando a esquina

Você se parece comigo
como no dia em que perdi o caminho de casa
no meu bairro não haviam placas, não haviam mapas era tudo muito semelhante e confuso

Eu me pareço com você
tenho o mesmo par de asas
pesadas e retorcidas, traços doces, cores ácidas
me incomodam pois não sei como usá-las
- O que procura, alma dobrando a esquina?
- Nada demais, estou só,de passagem.

e os trotes tortos enfim convencem
a ignorar a imagem

a menina das placas tectônicas

você foi a primeira a me dizer bom dia quando cheguei, talvez tenha sido a única.
eu respondi baixo por estar distraído, por isso voltei aqui pra agradecer.
lhe trouxa uma trufa de framboesa, são minhas favoritas, espero que goste.

você não parece muito animada hoje, ainda está sentindo dores nos pés?
devem ser esses sapatos modernos, o meu vive causando problemas.
sem falar que acaba antes da ultima prestação.
eu prefiro não reclamar muito e continuar a refeição.

me diga, é verdade aquele papo sobre placas tectônicas?
eu sempre achei estranho um chão tão firme o tempo todo.

6.12.07

infinito impasse

contra o céu ou pelo o solo?Ombros antigos lhe passam o sal enquanto te olham,
foi como um soluço destemido parado no meio do caminho
foi como um prego que se perdeu no buraco do tijolo
estando meio abalado, de fato, distraido, perdido entre pedaços
encontro enfim a ponta da corda e me enrolo
come o pão ou o miolo?
a voz rouca lhe rouba uma frase, suspira fraco e deixa os braços voarem em desleixo
dos termos fortes eu nunca me queixo
apesar de querer que isso parassese
expor é tão perigoso quanto esconder

Manual de instruções da máquina chata

1- Sim, eu construí uma máquina chata que nunca vai funcionar, como pode ver, só existem 3 botões e nenhum deles funciona, nas cores verde, azul, preto, respectivamente. Há também uma manivela na lateral esquerda, não sei se voce notou, mas também não funciona, não pense que é só por motivos decorativos, ela até poderia desempenhar um papel bacana para o funcionamento dessa máquina, mas simplesmente não funciona.

2- A máquina chata foi feita exclusivamente para suprir suas necessidades, se funcionasse. Acompanha um kit de ferramentas caso queira desmontá-la e tentar descobrir qual é o problema dela, vai achar muitos cabos desconectados e terá a chance de torná-la ainda mais inútil.

3- Caso consiga fazer algo funcionar, favor me mandar instruções de como chegou a solução, para que esse problema seja corrigido nas próximas versões e ninguém mais possa faze-la funcionar.

4- Não possuímos assistencia técnica pro motivos óbvios, para compensar voce receberá um chaveiro que brilha no escuro com temática futurista.

Hora Temida

O cão estava encolhido fora de sua casa, as caixas empilhadas não diziam nada
haviam grades na janela mas eu não me sentia preso, tem muito mais liberdade aqui dentro
ser livre é escolher carregar seu próprio peso?
Me faz lembrar da reprovação que eu mereço.

Tive sorte quando alguém limpou minha bagunça, mas agora esta sala está desarrumada e imunda.
Riram do jeito com que eu varria, a forma errada de dobrar a coluna
eu não reagi mal a ofensas, mantive o silencio,não tolerei dor alguma
experimentei me conter, experimentei explodir
nada disso foi feito pra mim
nunca respondi a altura por ter problemas com medidas
sentei em um daqueles degraus e estiquei bem as pernas

Transitar entre uma posição e outra procurando a mais confortável é pedir para nunca ter um lugar reservado, dar a cara a tapa é pedir para ser esmurrado.
Pode não ser o que voce quer, mas é exatamente (ou quase) o que pediu, aí está.

velha aurora

o termo certo é sempre aquele que foge pelas beiradas, escondido
segui o beco apoiado nas paredes, não me preocupei comigo
o céu mudou de cor, o céu mudou
se eu fechasse os olhos e enxergasse pelos olhos de outros
me desprendesse da sensatez, livre, de vez

há blocos de gelo na minha frente, me impedindo de seguir
com uma colher de sobremesa abro caminho,hesitante...
conseguiria minha alma sair pelo auto falante?
uma vez alérgico, nunca mais robótico

velha aurora

o termo certo é sempre aquele que foge pelas beiradas, escondido
segui o beco apoiado nas paredes, não me preocupei comigo
o céu mudou de cor, o céu mudou
se eu fechasse os olhos e enxergasse pelos olhos de outros
me desprendesse da sensatez, livre, de vez
blocos de gelo na minha frente, me impedindo de seguir
com uma colher de sobremesa abro caminho,hesitante...
conseguiria minha alma sair pelo auto falante?
uma vez alérgico, nunca mais robótico

acentos com cedilha

como está? Hoje eu percebi uma sombrancelha levantada, o pé batendo muitas vezes e uma respiração descompassada, se for por causa das dívidas, prometo que serão quitadas. Se for por minha causa, posso me retirar o quanto antes, se for por sua causa, acho que é hora de aceitar sua natureza, se for por causa do governo, podemos ir pra cuba, se for por causa do aquecimento global, podemos arrumar uma geladeira nova, se for pelo tédio, eu vou levantar minha sombrancelha também e quem sabe bater os pés, se for pelo barulho, há fones ou posso abaixar o volume, se for pelo sentido da vida, podemos comer um pouco de torta, de estomagos felizes pensando que nada mais importa.

30.11.07

Tô de figas

Espera um pouco
Cansei de te perseguir
Preciso de um tempo pra me recompor
Correr nesse asfalto causa muita dor

Não quero ser o bobalhão
ficar sempre em ultimo e levar olé

Deixa eu me esconder enquanto descanso
tenho o esconderijo mais bacana da rua
ninguém vai saber de onde eu surgi
quando pensarem que eu desisti

Quando eu tinha 10 anos, a melhor hora do dia era às 5 e meia
eu saia correndo da escola e ia brincar
depois de um tempo passei a ficar em casa desenhando
passaram algumas semanas, ninguém veio me chamar

29.11.07

copiando errado receitas culinárias

É um fiasco quando você se fecha em pensamentos. É uma tragédia quando aceita sugestões. É horrível quando faz testes ou põe em prática suposições. Não é divertido apenas esperar eventos, nem revigorante perceber que aqui estão e já se foram, eu gostava de brincar com alimentos, eram os brinquedos que duravam menos.

Por praticamente um ano, troquei açucar por sal, vinagre por shoyu, azeitona por jujubas azuis.

Agora que aceito melhor o fato de ter tropeçado, confesso os crimes contra mim. Matei meu ego, sequestrei meu ânimo, roubei minha força e não devolvi. Não se preocupe, eu fiz backup.

6.9.07

nozes em calda

se olhar de perto esses meus poros, verá que eles estão em apuros
ser de um mundo torto que exige que você seja reto
veja esses meus olhos que ficaram secos como cimento
tão cortantes como pó de amianto

de nada adiantaria me desculpar por coisas que invento
ou até mesmo provar que elas existem, mas têm outro nome
eu espero um lar que caiba no orçamento
e procuro algo pra chamar de plano

26.8.07

o curso dos recursos

brilha célula sem fundamento, sua pele ainda brilha
seja pelo protetor solar ou pelo óleo que sorri por cima
medo de dormir porque o amanhã não é pleno
eu fico aqui sustentando o que condeno

envergam as costas sobre a cadeira de rodinhas, eu pedi demais, pedi como nunca pedira
enxerguei soluções e deixei problemas debaixo do tapete, reclamei por instantes e ajeitei o topete
não houve um dia em que eu rejeitasse o sentido natural das coisas
não faz sentido o fluxo, a corrente cheia de setas
eu admito, essas idéias estão bem velhas
contém rugas e tristeza sérias

5.4.07

momento entre o soco e o chão

gotículas perseguem suas direções indefinidas e flutuam, o rosto ainda expremido me fala: pensei ter doído mais. Vejo um vulto colorido e a luz do dia opaca, ouço um sereno "pííííí" bem ao fundo, como se eu estivesse debaixo d'água. Eu fecho a outra mão pra revidar, caso eu consiga me levantar depois, mas ela se abre automaticamente quando avista o solo, eu penso "droga! porquê eu comecei isso?", eu comecei e algúem fez questão de terminar.
quando faltava alguns centímetros, ainda parecia um sonho acordado, eu: o monstro sem asas, eu: o dragão embriagado. Pisquei os olhos umas duas ou 3 vezes antes de...

1.4.07

o que a linha imaginária separa?

Gigantes ficam presos em penhascos, enquanto pessoas medianas se esforçam para pular o desfiladeiro. Como uma maquina de caldo de cana rmeoendo tudo milhares de vezes, fazendo isso soar com o um sino infinito dentro da cabeça. Remoendo, exatamente do jeito que vc prometeu não fazer, depois do julgamento, a sentença: você é um trouxa, mas é um bom trouxa. Depois que a sessão depreciação acaba, o festival da promessa retorna, dessa vez só o que você pode cumprir, mas sem prazos, pra você não se enrolar, então chegam a um acordo e a vida tenta rodar como de costume, mas a impressão é de que isso ficará martelando por uns tempos.

Mais dias de insônia

me esforcei com o que não devia
e oque me vem não me diz nada
são só respostas erradas

me acostumei com a hentalpia,
arranquei a minha casca
há dor na ferida aberta

dúvidas que nao foram suas, vontade de ter ajuda,
e ainda pergunta oq ue te fez parar?


me portei como não devia
quando o que eu quis ter foi não ter nada
são só derrotas ingratas
repensado mais ainda
causou o que eu sinto agora
há dor na medida certa

bolhas diante da lua
andar só em mão dupla
e ainda pergunta oq ue te fez parar?

25.1.07

Dígrafo

Não foi de propósito, deixar o copo se espatifar no chão, ou esquecer que não se deve bater a porta ou falar alto. Desculpe por ter encostado na tinta fresca e logo em seguida ter sentado na sua poltrona favorita, espero que goste de listras.
Seria uma boa idéia sair de fininho e me esconder debaixo da cama, mas da ultima vez que fiz isso espirrei a beça, então prefiro continuar com essa expressão desatenta e levar o sermão depressa.

Duas semanas com gostos sintéticos
de banana d'água a bife a milanesa
ser tripudiado por falsa certeza
ver toda a verdade nas coisas sem nexo

crianças felizes com seus cabelos coloridos, faria o mesmo, mas e o emprego? Da ultima vez em que tive crise, perdi metade da minha comissão. Você seria satisfeito vivendo sóbrio onde só há ilusão?

A última carta suja (reprise)

Foram os calso nos pés, os dias em vão, vocÊ sabe muito bem
mais que ninguém, estão queimadas,minhas mãos
e espalhadas por toda minha sala

Quando os cacos saírem de meus joelhos, talvez possa me responder
entristecer? continuar o mesmo?
manchas em linhas tortas, sempre as mesmas linhas tortas


* um tributo ao passado

21.1.07

em situações de risco

1 ano, cronometros e calendários, quem pode acreditar neles?

Eu estava disperso, tentanto matar algo que realmente não existe, mirei bem, lancei minha flecha, e ela passa como se aquilo fosse feito de fumaça. Belo dia em que resolvi aceitar esse desafio, o mais longinquo e difícil de ser completado, eu estava de frente para ele e me sentia cada vez mais inútil.
Ele avançou e fez tudo em sua volta acelerar, diminuir o ritmo, congelar. Descobri que não poderia matar o tempo e que ele me mataria um dia.