30.10.10

como perdi cem quilos

não foi revisão de hábitos
nem foi por dedicação
ou por convenções estéticas

não foi o que me disseram
nem tampouco decisão
consequência de decepção

descobri a pior das coisas
quando me revirava em noites mal dormidas, eu pude ver:
não estou quebrado
tudo funciona perfeito
tudo e de um certo jeito
eu consegui

se soubesse como é acordar e não sentir, oh chão, o que faria?
- simplesmente deixaria de existir

de que adianta ser louvável, já que causa tanta dor?
mesmo salvando milhões de vidas
não adiantou
não salvou a minha
e eu te pergunto todo dia se era o que você queria
ou se você errou ao me dar escolha
se a escolha já não é minha e nem parece ser sua
o que restou?

pedido de demissão

dando ré, pela décima primeira vez
em uma rua apertada, onde carros mal estacionados bloqueiam a passagem

dando ré, pela décima segunda vez
subindo pela calçada, enquanto as janelas são arranhadas pelos galhos das árvores

dando ré, pela décima terceira vez
muitas caras já fechadas, me olhando com reprovação como se eu tivesse culpa

dando ré, pela décima quarta vez
com celulares desligados, sozinho contra uma multidão de cobranças pertinentes

dando ré, pela décima quinta vez
eu só quero ir pra casa, o silêncio é bem vindo e o sono, inimigo

dando ré, pela décima sexta vez...

28.10.10

o uso dos porquês

Não entendo por que os cometas rasgam os céus mas nunca caem em locais apropriados.

meus cálculos estavam errados, senti vontade de dar meia volta, sabe por quê?

porque uma veia de preocupação saltou pela testa, aquela que contesta tudo que pode me acontecer.

o porquê das minhas memórias abatidas no penhasco, meu dicionário rasgado e a sola dos sapatos gastos na diagonal.

é confuso em todo o seu uso, para mim parece tudo igual.

27.10.10

coleção 1/10

perspicaz, pelos cantos da calçada, dançando discretamente
seguindo a pulsação dos carros, cuidando para que ninguém veja
garota das roupas de algodão, dos pés dormentes
neve sabor cereja

24.10.10

O amor invisível parte 3

Queria especular, poder dizer o que vai me acontecer
o chão vai desabar e as coisas vão voltar par ao seu lugar
queria entender porque diabos permaneço aqui
até perder o ar...

quando me perguntava, como então seria? o que eu faria da minha vida?
nunca imaginei, nunca imaginei...
(perecer só)

justiça seja feita com essa vontade de continuar
eu desafio o luto, eu luto mas não consigo ganhar
falam sobre a verdade, como se fosse alvo fácil
tão triste ser instável

quando me perguntava, como então seria? o que eu faria com minha vida?
nunca imaginei, nunca imaginei...
(perecer só)

O amor invisível parte 2

Labirinto, invasivo, que desperta a hora certa
eu entendo esse desejo de voltar

Labirinto, vingativo, que esconde a real face
velhos truques de espelho mesmo assim me encantam

Labirinto, persuasivo, que não deixa outra escolha
cercado e cego por sinais
agora tanto faz

O amor invisível parte 1

Num céu simbólico onde eu não pude estar
ressoavam versos diversos sobre sua falta
meus braços suspensos dispostos a te alcançar

foi tudo único com tanta força
que ainda sustenta sorrisos com a simples lembrança
de estar perdido e enfim se encontrar

sou vulnerável a tudo em você
desde os finos traços até sua voz calma e clara
não restam mais armas ou escudos para me defender

poesia vogon

não dremasve, por ti nosdelho
pela flácura contida e nula
semearia surdentas masjas
tremefaria argêntea bula
rotufrago-me de joelhos

és tênue, qual encoraja