5.4.15

a deixa


O teto caía na sala ao lado
ouvia-se um hino do lado de fora
a água das tubulações jorrava e a rede elétrica entrou em curto
arrombaram a porta para que pudesse se salvar
você, apegado ao seu canto favorito, dizia:
eu escolhi esperar

os tigres invadiram o acampamento
derrubaram as tochas, tudo pegou fogo
as armas estavam enferrujadas
encurralados, subiram o penhasco e jogaram uma corda
você, insensato e aos solavancos, dizia:
eu escolhi esperar

na saída do templo as paredes se fechavam
as palavras machucavam os ouvidos
os fantasmas rodopiavam carregando escuridão
você, desprovido de si mesmo, dizia:
eu escolhi esperar

na manhã tranquila todos respiravam aliviados
comendo pão, amarrando cadarços
ouvindo as notícias médias dos noticiários
perguntavam de que ano era o seu carro
resmungando que os tempos haviam mudado
você, inclinado ao espanto
inquieto e arrependido
deixou enfim escapar:


não dá mais para esperar







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