naquela tarde, eu era meu inimigo, sorrindo para o espelho e com dor nos ossos. Eu era a dúvida sobre todas as coisas reunidas em um só pensamento, eu era o sutil solavanco na calçada. a bateria do meu celular havia acabado e eu nem sabia que dia da semana era. Eu era a incessante espera por algo que não pode ser encontrado...
cumprimentei alguns conhecidos e senti saudade de tudo que ali nao mais estava, seja de fato a falta do afeto, ou a simples couraça de indiferença que eu tanto havia sustentado. Eu respirava lentamente o ar infeliz daquela cidade, senti muita vontade de estar debaixo de alguma árvore, comendo biscoitos de aveia enquanto a brisa suave pedia para que eu não me preocupasse.
seria injusto conceder ao destino tamanha responsabilidade, o que resta de alteridade já não cabe nesse devaneio. eu poderia acertar em cheio o alvo, mas estou tão cansado que não me preocupo e meu maior desejo é que aquele seja o ônibus certo.
Adoro o barulho do portão se abrindo, adoro o som das ruas se despedindo e me deixando sozinho em meu abrigo, deixarei todo o peso aqui fora, não quero que nada disso fique comigo.
não hesitei em pendurar as placas, deixei armadilhas pelo caminho e tranquei duas vezes a porta. mergulhei no colchão macio e deixei que tudo desaparecesse, programei o despertador para me despertar quando eu bem entendesse
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Um comentário:
Programei meu despertador pra um ano, mas meus vizinhos não me deixam dormir. Acordei em 15 minutos!
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