16.4.18

A dignidade do risco




pra quem vive na bolha, cercado pela muralha
a consequência é densa, propensa à uma sentença falha
coincidência eu não saber de nada, nem onde está minha toalha
o mundo que era o meu quintal ser também o que me sufoca, me tolhe e me talha

foi por medo, mas também foi por desconhecimento
me fechar e não querer saber no que deságua o pensamento
aqui dentro, tudo é confortável e estático, cético e prático
um mundo caótico esmagaria esse ser tão intenso e frágil

mas houve o tempo em que venci e quebrei aquelas barreiras
pisei lá fora descalço e em falso pela avenida da incerteza cabreira
e olha, não foi nem fácil nem dócil o desenrolar do aprendizado
mas foi o golpe no osso que me fez sentir a vida inteira

e agora eu me permito, sou e sinto o gosto bom do desafio
de não saber, perder, temer, prender o ar bem no vazio
que a casca grossa seja a metamorfose da fragilidade
atento ao risco eu sigo, ostentando dignidade

base:
https://www.youtube.com/watch?v=ZC--qRPOaCM


19.3.18

Remediado Está



Olha como esses dias passam
e como trazem novos eventos
eu não esperava, mas acontecem
mesmo sem minha permissão

olha como as coisas mudam
se entortam ou se ajeitam
se dissolvem ou acumulam
independem da minha intenção

e eu até que me mexo
oh como eu corro atrás
mas tem hora que adianta
e hora que não adianta mais

o maios dos desafios
é o de pagar pra ver
quando tudo desmorona
ou demora pra crescer

sou metade esperança
e metade desespero
urgente pela mudança
mas também cheio de medo
será que eu sobrevivo
será que vou estar lá
quando esse atual tormento
se dissipar

será que vai ter uma trégua?
será que volta a me importunar?
será que eu vou ser tão chato quanto eu fui
no passado glorioso e mentiroso que só existe na cabeça
dos que não conseguem seguir
dos que não conseguem deixar ir
dos que não conseguem relaxar



18.2.18

Q de questão


Quanta coisa mudou desde que eu saí da beira do abismo,

mas ainda fico cansado quando corro, ainda balanço os pés quando sentado, ainda sinto medo de arriscar e vez ou outra me vejo como um impostor, flertando com a ideia de tempo perdido, olhando para trás como um vitorioso ao mesmo tempo que a sensação de incompletude machuca de leve o canto da alma.

Eu sei agora que tudo passa, eu mesmo passei aqui uma milhão de vezes pensando coisas diferentes, eu mesmo olhei pra chuva irado e sorridente, embriagado e sóbrio em desencanto, triste e estimulado. Sou mais que a vida provinciana anuncia, menos que a propaganda promete, sempre sedento e exigente, buscando um sono macio que ainda não existe, uma melodia que ainda não surgiu na minha cabeça ou quem sabe um meio de me entregar de vez ao fluxo do rio, que só vai pra frente.

Não quero mais ser importante, muito menos me sentir impotente perante o incômodo de estar doente. Quero encontrar quem eu sou dentro do que eu tento ser, resgatar a ousadia kamikaze de meus ancestrais e pular bem alto no escuro das chances, nunca mais me arrepender do receio, de ponderar demais como fiz antes, resgatar o meu ímpeto que evaporou de meu corpo.

Eu acredito que essa é minha última oportunidade. Pode ser que não seja a verdade e eu queira pressionar a mim mesmo nesse processo, mas julgo retrocesso não apresentar soluções nessa altura do campeonato. Eu tenho as ferramentas, tenho a habilidade, tenho a vontade e a estratégia, só preciso da força da matéria, do corpo que coopera e da mente um pouco quieta quando enfim for necessário.

Quanta coisa mudou desde que eu saí da beira do abismo!

8.12.17


veloz e por acaso preso na intenção
eu nunca aceitaria esse imenso não

perdido e contemplado por uma aquisição
não sei se aceitaria esse imenso não

moído em pedaços por contínua rejeição
talvez aceitaria esse imenso não

perdido e conformado sem nenhuma obstrução
eu sei que aceitaria esse imenso não

patente pendente


e a gente fica assim, sem medo de continuar
e as coisas vão pra sempre mudar de qualquer  jeito
e a gente fica assim, sem medo de tentar
é que pra sempre eu espero uma resposta que me caiba outra vez
outra vez

pode não ser ruim, mas pode também ser sim
já que tudo tem contraste, já que tudo que encontraste pode ter seu fim
mas não pensa em mim no dia em que eu deixar de conseguir
no dia em que eu deixar de conseguir

26.4.17

dormir ou emendar


olhar com raiva para vitrines blindadas

dar a volta e ver que estão trancadas

tentando mil combinações  no painel da porta

perdendo um tempo precioso feito um pateta

esquecendo que a vida acontece aqui



Com o tempo muita coisa perde o sentido
perde o brilho ou ganha destaque
Eu ouço o som da claque
mas nenhuma piada foi contada
às vezes eu rio junto
às vezes me desespero
e muito de vez em quando
sento no chão cansado do conflito
aprendi a descansar,admito
mas acordo como se tivesse sido
atropelado


Sou só eu e a vitrine, intocada
eu trancado do lado de fora
tão afoito, imagine
se um dia eu entro
e lá dentro, nada





Prezado hipotálamo,

desde já obrigado por essa parceira vitalícia
apesar do descompasso hormonal e metabólico
você tem feito um trabalho deveras heróico
regulando minha temperatura
lidando com os baques dos tremores de amargura
atenuando o pensamento paranóico
meu desespero simbólico
frente à minha vida semi fictícia


20.11.16

tic tac

Falta pouco, muito pouco
logo mais eu serei outro
sem impostos, sem tributo
finda a luta, finda o luto
talvez eu não me reconheça
pode ser que eu me acostume
pode ser que eu me entristeça
nostalgia de azedume
que não sai da minha cabeça






29.9.16

10 uniformes militares que fizeram seus soldados serem mortos


se me perguntasse hoje algo sobre confissões eu diria: não as faça
pois é inegável que algumas palavras permaneçam melhor não ditas
sei que ouviu gente se queixar pelas ações interrompidas
mas cara, olha pra mim agora

queria mais uma jarra de limonada,que aqui não fechasse tão cedo
sentir os carros passando nas poças enquanto ouço a mesa ao lado
a minha calma sempre volta, eu já me sinto calejado
mas cara, juro que foi difícil na hora

14.7.16

Nota Mental


Superado o momento de questionar a validade da existência
volta e meia me preocupo com a qualidade da minha sobrevivência
gastei muita energia para não fazer tudo desabar
resta saber o que construir sobre essa fundação

As vezes me sinto um pouco isolado
de coração duro, despreocupado
ranzinza, severo, cético
dificilmente encantado

Eu era ingênuo, sofri muito
chorei muito, me magoei tanto
senti tanta raiva que esgotou
e sobrou uma calma
que nem sei se compensa
estar em paz com quase tudo
por ter afogado as vontades
observando as chances passarem raspando
ano após ano

Eu fui um babaca tantas vezes
que me envergonho
e não vou poder pedir desculpas para todo mundo

Eu me orgulho de cada doação de meus cuidados
em tempos onde me faltava energia
sinto que cuidei de quem eu pude, do jeito que pude
com o melhor que eu tinha

meus olhos viram coisas incríveis
toquei peles macias e quentes, falei e ouvi coisas admiráveis
ri com uma frequência que desafia a minha postura niilista

uma década depois da internet discada, ainda sofro seus impactos e passo a  noite acordado.





13.6.16

O Grande Perdedor

No caminho pra casa, você levemente embriagado,
começou a falar da vida e voltava na mesma tecla que já havia me contado.

Você disse que eu era seu herói, mas que tinha me superado.
De certa forma se sentia outro, que tinha me ultrapassado.
Disse que eu era humano e que também tinha defeitos.
Nesse momento eu fiquei pensando com calma e direito.

Toda vez que você fica assim, diz o quanto está perdido e o quanto espera algo vir enquanto você é agredido.
Mas ao falar do que esperava, que eu fosse ou me tornasse, uma leve frustração dentro da sua fala nasce.

Ninguém tem o controle de nada, ninguém tem a sabedoria pra lidar com a vida ingrata.

Você abraça o que é
Eu abraço o que eu sou
E tentamos juntos conviver
Mas algo me escapa, algo me escapou

Ao longo desses anos você se empoderou
Me diminuindo tanto com esse poder que você ganhou
Agora você tem autonomia para discordar das minhas cobranças
Nada disso vai te afetar
Pois hoje é você quem ganha no jogo de se estabilizar

Mas saiba que estou me curando
Aos poucos me remediando
Descobrindo o que há de errado no organismo
Acelerando meu metabolismo
A mudança vai ser lenta, o progresso vem aos poucos
Mas eu sei, com certeza que, não dá pra ganhar o tempo todo
Esse jogo.

8.6.16

Upgrade Vs Downgrade

Essa interface atual não permite que eu nade
ou corra quilômetros a fio
ou me mova com destreza e certeza sem esbarrar em nada
Ela só me protege do frio
me faz lento e macio
enquanto a gravidade age, severa e ingrata

Quão grande é a vontade
de uma couraça mais adaptada e versátil
aerodinâmica e resistente
moderna e elegante
feito panela antiaderente
feito broca de diamante

Essa interface é tudo que eu tenho, é tudo que eu sou
é tudo que eu temo que enferruje e pereça
a manutenção é custosa, o reparo é trabalhoso
a prevenção não tem garantias, o descaso é perigoso


por isso todo dia dou uma nova chance
de reformar aos poucos respeitando as limitações
de numero de série do sistema operacional
das diretrizes e complexas programações
evitando a comparação injusta e desigual
excluindo toda preocupação banal
carregando desejos possíveis e projeções






1.6.16

Colchões magnéticos


Há pessoas que conseguem dormir bem
sim, existem, elas andam por aí
um vizinho de um amigo diz que viu
e chamou até alguém pra conferir

se eu pudesse eu perguntava como faz
sem remédios, sem cansaço, sem ter paz
sem a sensação que tudo vai passar
forçando o ar pra nada imaginar

quando eu tinha 8 eu sei que conseguia sim
pois perdia a mais tardia das sessões
lá se foram meu favoritos filmes de ninjas
cá vieram tantas interrogações

boas idéias e frustrações
onomatopéias e conclusões
já não chamo desgosto porque não me foi imposto
aceito de bom grado as condições





1.1.16

Você era bonita mesmo com espinhas


você voltou pra cidade, disse que queria conversar e andar por aí
te liguei umas vezes, mesmo com o pé atrás, você não atendeu, não insisti
sinto a divergência de modos de viver e não há nada mais em comum
você está entediada e adulta, eu ainda respiro o 2001

pode ser exagero, mas isso me trava pra valer
quem sabe no próximo feriado emendado, quem sabe por acaso
a cidade é pequena e eu ainda vou ficar mais um tempo por aqui
acho que é só nostalgia, saudade do que já foi um dia, carência
provavelmente
infelizmente


12.12.15

Pino e Coroa

Eu estava muito longe e era uma longa jornada
o solo era pantanoso
a vida era um suspiro e um soluço
condizente, corajoso e confuso
tive de rever e recalcular, o que não era frequente
mas precisei ser sincero, bati o martelo:
não dava para seguir em frente com tanta dor de dente


Damasco

no meio da madrugada o silêncio é absurdo
e se não fosse esse ventilador, se não fosse os carros da rodovia lá embaixo
os gatos sem casa, os cães inquietos
talvez eu pudesse ouvir com clareza meu próprio pensamento
que bom que eu não posso
que bom que eu só escuto os fragmentos
como quem senta no final da sala e é meio surdo

esse fim de ano está meio embaralhado, meio absurdo
às vezes me sinto amargo e realista
sinto falta de quem eu era
e sobre quem eu sou agora: não tenho nenhuma pista



8.12.15

a rota da vitória 010


Se você só se cobrar, nunca vai perceber quando estiver dando certo
se você se contentar, vai esquecer do porque já lutou tanto
se você deixar quieto, vai perecer aos poucos no desgaste do tédio
se você só lamentar, vai perder o fio de esperança que te faz levantar da cama
a mim você não engana

procrastinando desde que te conheço, aprendeu até mesmo a lidar com a solidão
a essa altura do campeonato é que pesa o fardo
de nunca ter definido sua direção

mas eu confio na revanche
na mesa que vira, na vida que surpreende
difícil é lidar com a ansiedade
evitar o desabamento
seguir em frente


17.11.15

Poster Desmotivacional


eu sei que essa cidade te magoa de verdade
e tem mágoa que a gente costuma guardar
mas peço que por um momento
reavalie esse tormento
e me diz o que ainda dá pra salvar

eu cansei de tanta raiva
da resposta atravessada
da desinformação, do desprezo
não sei se a idéia é clara
de que muito pouco se aprende
convivendo com quem só pensa o mesmo

eu quero pagar minhas contas
reatar todas as pontas soltas
fortalecer as minhas defesas
cuidar melhor da saúde
dar uma geral no quarto
e quem sabe aprender a nadar

envelhecer é estranho
quando percebemos o tempo
que levamos para alcançar
todas aquelas mudanças com as quais sempre sonhamos
muitas delas ainda custam a vingar

eu sei que essa cidade abala sua integridade
mas é daqui que sua história vai zarpar
cada dia é um desafio
e perde-se um pouco do brilho
quem não tem ou sabe o que esperar
precisamos começar de algum lugar


10.11.15

A colheita de 99


Acho que já posso suspirar pelo passado sem ser chamado de exagerado
foi naquele ano que entendi como o coração funciona e que amigos também mudam de lado
comecei a me preocupar com o que vestia e de uma forma atrapalhada e desentendida
me perguntei qual era o sentido da vida
caiu a ficha sobre o quanto o dinheiro me faria falta
entendi porque eu não tinha nada a ver com ninguém do bairro
só não foi solitário pois haviam poucas coisas me mantendo conectado com meia dúzia de pessoas
desenho japonês, video game, tazos.
talvez me passasse despercebido a simplicidade do meu contentamento
ah se eu soubesse
tudo de bom que eu guardava esse tempo todo aqui dentro

fim do suspiro, não é tarde demais, eu acho
ainda me carece contentamento nesse mundo no qual não me encaixo
sinto que sobrevivi à pior fase, agora quero remendar os buracos e passar merthiolate
nas feridas que a vida provoca quando me bate



não sei qual foi a relação com isso tudo, mas nesse semestre tive minhas primeiras notas vermelhas em matemática


10.10.15

ventilador na velocidade 3


Vez ou outra eu lembro das brigas que evitei ao longo da vida
e lembro também dos meus amigos de sangue quente que ficavam indignados
lembro em quantas vezes fui desqualificado por ser bom
e da dificuldade de determinar minha própria assertividade

já invejei muito a audácia e capacidade de não levar desaforo pra casa
e gostava muito dos filmes de ação onde o tópico era vingança
mas infelizmente era algo que eu não podia ser
mesmo tentando ou forçando a barra

Por essas e outras acho bacana quando vou a algum lugar e vejo em outras pessoas
a mesma empatia que carrego comigo
que me atropela e me machuca, mas me mantém ligado ao que eu acredito

sinto que conforme eu envelheço, parte da minha paciência se esvai
e torço pra que isso não seja minha ruína ou a ruína de alguém